terça-feira, 23 de agosto de 2011

Redutivelmente, eu

Os ponteiros se estacaram contra o relógio. Pausa.
Pausei.
Enquadrada e exposta sobre o que pensava ser uma cadeira - recordando-me agora daquele momento, talvez eu estivesse em pé, talvez apoiada contra a escuridão ou levitando sobre meus devaneios; sozinha naquele corredor fechado enquanto todos me cercavam por fora.
Alheios?

Prendi a respiração.
Tum, tum, tum. Onomatopeias a galopar contra meu peito, no céu da boca; saindo pelas orelhas.

Desejava decompor silabicamente o meu ser. E eu o fiz. Primeiro, os olhos - não suportava mais ver: necessitava enxergar. Depois a boca, devorando os meus lábios já cerrados. Logo em seguida, os meus seios. Tornava obsoleto, lentamente, todas as limitações carnais. E as mãos, estas sendo retiradas por último, eram mais traiçoeiras que a metafísica do coração, permitiam-me conectar quiasmaticamente com qualquer imposição que se feria contra meu corpo.

E permaneci ali. Em silêncio. Feito brisa atravessando a doçura da primavera. Quase estacionária. Meu pensamentos a palpitar, a me conduzir, vascularizar.

Em tentativas descontínuas de me reconstruir, fui-me desgastando (ou pelo menos desgastara qualquer vontade de me reconciliar com meu físico).

Percebera, então, que os ponteiros haviam voltados a se propelir circularmente.
Denso e poroso, o tempo. Propagando-se em meu vácuo.
O Eu-vácuo.
Porosamente denso e temporal, o meu vácuo. Propago-me ao palpitar.
O Eu-palpitar.
Eu. Palpito

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Roland Barthes